domingo, 12 de julho de 2009

O VIDENTE


Ao comentar, no meu trabalho, sobre a cartomante que previu a própria morte numa sessão de leitura de cartas, meu colega Neizinho disparou:
"- É, Pedrão, tem coisa estranha neste mundo. Lá no meu bairro tem um velhinho que é terrível. Previu um bando de coisas. Colega nosso falou com ele, ele avisou que o rapaz iria morrer dentro do próprio carro e não deu outra: se atrapalhou numa avenida movimentada e acabou batendo num poste com o seu Maverick. Morreu com o pescoço quebrado. Você, que já tem experiência com a velhinha lá do Cambuí, precisa conhecer o meu vizinho."
É claro que um belo dia, lá estava eu no bar ao lado da casa do Nei.
O homem, um senhor de baixa estatura, rosto inchado, olhos vermelhos e lábios azulados de tanto beber, fez o óbvio.
Me pediu para pagar uma pinga.
Imaginei: o Neizinho me arruma cada uma... Esse senhor não é sensitivo nada! E ainda por cima é um pé de cana. Só comigo mesmo...
De repente, um colega atravessa e puxa o velhinho para o lado de fora do bar e começa uma conversa animada, reservadamente.
Depois de um tempo, entra chorando.
Chamei-o de lado e perguntei baixinho: - O que houve? e ele respondeu que o homem do nada, não só falara sobre a sua doença (era epiléptico) como falara da doença de seu irmão (cleptomaníaco) e de outros problemas pessoais e familiares super-secretos que só os amigos mais chegados sabiam e ainda assim em parte.
Depois de atender a mais alguns colegas, chegou a minha vez.
Ele olhou bem dentro dos meus olhos e disse:
"- Você é uma pessoa que gosta de ver o sucesso dos outros né? Vc vibra quando as pessoas se dão bem."
Achei isso uma afirmação óbvia demais, mas concordei.
É muito comum ter pessoas assim, que torcem pelos outros.
Aí ele perguntou:
"- O seu chefe gosta de vc? Como vc está no trabalho?" respondi que mais-ou-menos e aí ele disse:
"- É que você vai ter uma promoção no trabalho no mês que vem."
Na verdade, eu ia muito mal no meu trabalho.
Lamentei por ver o homem me estimulando naquilo de mais frágil.
Em seguida, ele perguntou se havia alguém doente na família. Informei-o que minha mãe e a avó de minha mulher estavam com angina.
Mais nada.
Ele observou:
"- é que irão levar até você - até a sua casa, vc será procurado lá - a notícia da morte de uma pessoa muito próxima."
Dito e feito.
A minha situação na firma degringolou de tal maneira, que não tive outra alternativa a não ser procurar outro emprego, que consegui pelo triplo do salário.
Na mesma semana, recebi uma oferta de trabalho numa grande rede de TV por mais de 12 vezes o meu salário anterior.
E, em casa, num condomínio, fui procurado por um segurança para avisar que alguém havia morrido e minha mulher precisava falar comigo.
De fato, ao ligar para ela, soube que a garota que não saía de minha casa, era irmã da minha cunhada e grande amiga de minha mulher.
Várias vezes o Nei me avisou que o velhinho estava bebendo demais e "trepidando".
Eu sempre queria voltar lá, mas a notícia de sua morte chegou antes.
Perdi o meu desacreditado, mas eficiente vidente.

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