domingo, 12 de julho de 2009

A Cartomante

Meu carro estava na oficina e para buscá-lo, peguei uma carona com minha mulher.
Durante o trajeto, com todo jeito, ela me consultou
sobre a possibilidade de fazer uma pequena parada no caminho.
Sem saber direito do que se tratava, concordei, afinal eu era o carona.
Ela parou numa pracinha onde havia uma enorme seringueira falsa, dessas de grandes folhas e profusas raízes.
Havia de uma lado da praça, uma série de casas com grade na frente.
Entramos numa delas.

Veio nos receber uma senhora clara, obesa, de lenço na cabeça, com algo parecido aos seus 70 anos ou mais.
A minha mulher nos apresentou: "-Eu sou a Fulana. Este aqui é o Pedrinho...".
Conversa vai, conversa vem, minha mulher, reservadamente, me asseverou que ela era uma cartomante e que não lia as cartas para mais que
uma pessoa.
Com a curiosidade aguçada, entrei na brincadeira.
Me ofereci para ser o primeiro e asssim foi.
Uma vez a sós, a mulher colocou algumas cartas na mesa, fez caras e bocas e disparou:
"- É... Estou vendo aqui que você vai se casar."
Segurei o riso.
Afinal, eu já era casado no civil e religioso com a m
inha mulher, ela apenas não disse nada na apresentação por decuido, talvez.
Mas fiquei firme.
Aí ela disse:
"- Mas não é com essa moça aí não!" se referindo à minha mulher.
Mais uma vez segurei o riso.
"- Você vai se casar com uma moça mais clara do que essa, de pele bem branquinha e cabelo castanho quase loiro."
Diante do non-sense da situação, resolvi colaborar e emendei:
"- Será que vou ter filho?"
Ela confirmou.
Mais que um?
Ela respondeu:
Estou vendo aqui coisas tristes.
E de coisas tristes eu não falo."
Lamentei, porque tinha feito exame médico que apontou minha esterilidade.
Pagamos na época algo parecido a R$ 2,00 por consulta e fui embora imaginando quão lamentável era ter que fazer esse papel ridículo que a mulher fez bem no fim da vida, apenas para faturar uns trocos.
Mas esqueci.
Depois de dois anos, a minha vida mudara drasticamente.
Me separei da minha primeira mulher e conheci a segunda.
Quando a minha segunda mulher teve nosso primeiro filho - descobri nessse meio tempo que havia na história do meu casamento anterior uma falsificação de resultado de espermograma - lembrei da velhinha.
Moça de pele clara, né?
Era a minha atual mulher.
Filhos impossíveis?
Lá estava o meu primogênito.
Resolvi voltar.
Mas a vida atribulada não deixava.
Quando meu menino completou seis meses, resolvi cancelar uns compromissos e ir lá ver a velhinha de novo e pedir desculpas por tudo o que eu tinha pensado de mal dela.
Afinal, o que ela me disse acontecera.
Encostei meu carro debaixo da figueira.
Tinha um rapaz lavando um carro logo ao lado.
Me confundi com as grades das casas e perguntei:
"-Amigo, qual mesmo é a casa daquela senhora que lê cartas?"
Ele me respondeu
"- Ah, você chegou tarde. Faz seis meses que ela morreu."

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