domingo, 12 de julho de 2009

O VENTO

Fim de casamento, rescaldo da derrota, o velho lobo solitário lambia as feridas, não vendo a hora de acabarem os dias frios de inverno e um vizinho, notando que apesar da roupa de super-homem bem recortada, a cara denotava a perda - chamou um amigo médium para um "passe". - Se não fizer bem, mal também não faz - observou o meu vizinho. Topei. Na casa dele, defronte a minha, nos reunimos em círculo na sala. O médium incorporou a entidade e começo a consultar com o pessoal. Na minha vez, ele pergontou o que eu queria. Respondi que só queria proteção. Então ele me deu uma tarefa. "-Você vai na igreja de Santo Antônio na primeira missa do domingo. Entra na igreja e chama pelo meu nome três vezes."
Bem, no domingo eu queria mais era ficar na cama, mas alguma coisa me disse que eu devia arriscar bancar o idiota, mas fazer o que me fora recomendado. Fui até a igreja, que por sinal estava lotada e chamei o vento três vezes. Bem, fiz a minha parte e voltei para casa.

Três anos depois, conheci uma garota no Rio, com a qual eu quis me casar, mas não deu certo. Ela me deu o fora no dia 31 de março. Voltei para São Paulo desconsolado. No dia seguinte, uma segunda-feira, fui demitido no trabalho. Fui para casa, desliguei o telefone, tranquei a porta e permaneci incomunicável por 8 meses. Não atendia a porta. Coloquei um aviso: "É importante? Bata." e as pessoas, é claro, batiam se achavam o assunto importante. Aí troquei o aviso por: "Agora não!" Cheguei a ficar 17 dias sem abrir a porta da frente. E quando saía, era só para comprar alimentos ou ir ao banco. Depois de todo esse tempo, acabou o dinheiro, o telefone foi cortado, comecei a passar fome. Um dia, saí de casa, fui a um orelhão e no terceiro telefonema, já estava empregado. Mas só Deus sabe o que eu passei. Não foi fácil. Então, aos poucos, coloquei minha vida novamente em dia.

Passado um certo tempo, recebo a notícia. Outono bem definido, próximo do inverno, mar em plena ressaca, o vento derrubou uma enorme árvore bem na fachada da casa da minha ex, com um estrago considerável. Até aí morreu neves, mas logo recebo outra notícia: o vento havia derrubado também, logo depois, com também grande prejuízo, outra árvore na parte de trás da casa. Baita coincidência. O vento muda de trajeto, inverte por vezes, não é assim? Mas eu dei uma clareada na memória um tanto quando forçosa, quando soube que a mulher do irmão da minha ex, uma pessoa pela qual eu não alimentava muita simpatia, foi chamar o filho, que brincava no pier, para o almoço e o vento arrancou uma banca de jornais do chão jogando por sobre ela. Quebrou a bacia, esteve internada por muito tempo e tem sequelas até hoje. Tento não ligar os assuntos, mas isso de vez em quando acaba acontecendo e me sinto um tanto constrangido, porque não me considero um tipo que possa desejar mal às pessoas nem por brincadeira. Mas essas histórias, por vezes, me colocam pensativo.